Do Mito a Filosofia, uma herança Humana


Mito, do grego Mythos, que significa, etimologicamente, Fábula, é uma narrativa simbólica na qual a palavra é usada para transmitir e comunicar coletivamente a tradição oral, preservando a sua memória e garantindo a continuidade da cultura. O mito procura explicar a realidade, os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semi-deuses e heróis. É uma narrativa cuja existência depende da materialização na palavra falada ou escrita, do contar alguma coisa a alguém. Enquanto tal, o mito é a estrutura que permanece independentemente da sua materialização literária. Quer dizer que um mito não é o mito; Ao longo dos tempos, pode ser preenchido e enriquecido com diversos pormenores e atualizações. 

A possibilidade que o mito tem de evoluir, de ser enriquecido, ou pelo contrário, de ser empobrecido e mesmo desaparecer, torna-o passível de construção, reconstrução e atualização.

Os aspectos que caracterizam o mito na Antiguidade Clássica grega são o fato de este ser uma narrativa anônima, fabulosa, de aceitação coletiva e com localização num tempo indeterminado. Enquanto narrativa, o mito é uma história que se conta relativa a acontecimentos e personagens do passado. O seu autor não é identificado. Enquanto narrativa de autor anônimo, o mito é produto de um patrimônio cultural coletivo. É uma narrativa fabulosa, na qual há a intervenção de construções imaginárias. O seu tema pertence, pois ao fundo lendário, étnico e imaginário de uma determinada cultura, têm por base uma tradição popular que se perde na origem do tempo. Coletivamente aceite, o mito acaba muitas vezes por ser integrado no sistema religioso.

As personagens dos mitos são seres extraordinários: deuses e heróis. Os deuses são imortais. Os heróis são, ou semideuses, ou filhos de mortais e de divindades, ou mortais filhos de mortais que, pelos seus feitos, merecem ultrapassar a dimensão humana.
“O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo.”
—Fernando Pessoa
A palavra "Filosofia”, do grego, resulta da união de outras duas palavras: "philia”, que significa "amizade", "amor fraterno" e respeito entre os iguais e "sophia", que significa "sabedoria", "conhecimento". De "sophia" decorre a palavra "sophos", que significa "sábio", "instruído". Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber, assim, o "filósofo" seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.

Filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.

A transição, durante muito tempo, foi atribuída à relação Oriente – Grécia, confrontando, desde a antiguidade, duas linhas de interpretação: “Orientalistas”, que reivindicavam para as antigas civilizações orientais a criação de uma sabedoria que os gregos haviam apenas herdado e desenvolvido e os “Ocidentalistas”, que viam na Grécia o berço da ciência teórica e a Filosofia. Platão e Heródoto, desejando conservar intacta a originalidade Grega no capo cientifico e filosófico, reconheciam, porém que na arte e religião, os helenos haviam assimilado elementos orientais.

No período conhecido como Alexandrino, essa pretensão desaparece. A perda da liberdade política e a inclusão da Grécia nos impérios Romanos e Macedônios alteram a visão que os gregos têm de sua própria cultura, já não se sentem dotados de uma essência própria e diferente da dos “bárbaros” orientais. Diógenes Laércio, em sua Vida dos Filósofos, já se refere à antiguidade dos persas e egípcios como fabulosa, porém, somente com os neoplatônicos e neopitagóricos e com os primeiros escritores cristãos é que surge mais definida a tese da filiação do pensamento grego ao oriental, e passou-se a atribuir ao Oriente, em nome de afirmações nacionais ou doutrinárias, a condição de fonte originária da tradição Filosófica, os gregos teriam apenas continuado e expandido.

É interessante, portanto, que “quando” aconteceu esta transição de Mito para Filosofia, é menos importante do que “onde”, pois o homem busca desde os primórdios essas explicações. A necessidade de explicar o mundo que nos cerca, a origem das coisas e da natureza, relaciona Mito e Filosofia. E apesar de um buscar alegoricamente explicar os fenômenos e o outro o fazer através da razão, o motor que os impulsiona é o mesmo: a inquietação humana diante do desconhecido. E esta inquietação brota no ser humano independente de sua origem cultural ou temporal.

* Materiais Consultados: Wikipédia, Coleção “Os Pensadores – Pré-Socráticos” (Editora Nova Cultura Ltda.).